Pequena história sobre a criação do Laboratório de Geografia Agrária

 

O ano de 1986 foi um ano de extrema importância para a Geografia uspiana. Um ano no qual as estruturas curriculares, administrativas e de pesquisa passaram por grande mudança. A principal questão em pauta, que afetaria de maneira contundente todas as áreas do Departamento, foi a dissolução do Instituto de Geografia (IGEOG) e a reorganização de seus laboratórios no Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Assim, no início do ano de 1986, instituiu-se um Grupo de Trabalho cujo objetivo era pensar na fusão entre o DG e o IGEOG. 

A solução encontrada por este grupo foi a de unificar DG e IGEOG, por meio da criação de uma nova unidade de ensino da Universidade de São Paulo. Essa decisão foi acatada pela Plenária do Departamento, que deliberou pela unificação. Contudo, tal decisão não foi a termo, tendo em vista a brevidade exigida pela Reitoria, à qual o IGEOG era ligado, e pela Diretoria da FFLCH, à qual o DG estava ligado,  a solução possível foi a absorção do IGEOG pelo DG. 

Há de se considerar que esse período foi extremamente conturbado, conforme a leitura das Atas das reuniões conjuntas da Plenária e do Conselho do departamento  do ano de 1986, sobretudo por causa da absorção dos funcionários do IGEOG pelo DG. A dissolução do IGEOG foi publicada em Diário Oficial no dia 4 de novembro de 1986, e sua extinção aprovada pelo Conselho Universitário em 31 de outubro de 1986, dando início a um período de longo debate sobre a reorganização do DG, que definiria a estrutura departamental que permanece até hoje em dia. 

Com a extinção do IGEOC, e com a absorção do seu acervo e salas pelo Departamento de Geografia, se fez necessário elaborar um novo Organograma do Departamento. No dia 1 de dezembro de 1986, em nome do Grupo de Trabalho de Reorganização do Organograma do Departamento (Anexo I).  Os professores Seabra e Lylian  apresentaram a proposta de Organização do DG que foi acatada e  aprovada  pela reunião conjunta da Plenária e do Conselho. 

Organograma apresentado na Reunião de 1º de Dezembro de 1986, situado às Fls. 68 do Livro de Atas do Conselho e Plenária de 1986. 



 

A partir desta reorganização, os Laboratórios Científicos e Didáticos do extinto IGEOG passam a integrar o DG e são criados os Núcleos Temáticos, vinculados à Coordenadoria de Pesquisa, por meio da Comissão de Núcleos Temáticos.  A partir deste momento, a Geografia Agrária se estabelece como um Núcleo de Pesquisa, sob o nome de Estudos ou Questões de Geografia Agrária. 

 

FLs. 70 do Livro de Atas do Conselho e Plenária do dia 1º de Dezembro de 1986. 

 

É importante ressaltar que os Núcleos Temáticos versavam sobre novos temas, perspectivas teóricas e metodológicas e abordagens de pesquisa, que não estavam presentes no antigo Instituto de Geografia. A mudança não era apenas organizacional, os anos de 1986 e 1987 foram anos de intenso debate sobre uma nova perspectiva na Geografia Uspiana. 

Em  20 de outubro de 1987, após um estudo mais aprofundado da estrutura dos Laboratórios e Núcleos Temáticos, os antigos Laboratório de Geografia Humana e Geografia Econômica, vinculados ao extinto IGEOG e integrados em DG,  passaram a constituir três novos laboratórios, quais sejam: Laboratório de Geografia Política, Geografia Urbana e Geografia Agrária (Anexo III).  O Núcleo Temático de Estudos ou Questões de Geografia Agrária e o Núcleo Temático de Estudos da Amazônia passaram a se vincular ao Laboratório de Geografia Agrária. Os docentes vinculados a este Núcleo temático eram: Maria Regina Cunha Toledo Sader, Paulo Pedro Perides e Rosa Ester Rossini (Fls. 106 Livro de Atas do Conselho e Plenária,  Reunião do dia 20 de outubro de 1987)

 

Fonte: Fls. 100 do Livro de Atas do Conselho e Plenária, do dia 20 de outubro de 1987.

 

O Laboratório de Geografia Agrária: uma vertente marxista 

 

O primeiro coordenador do Núcleo Temático, foi o Professor Ariovaldo U. de Oliveira, cuja trajetória se confunde com uma guinada epistemológica em relação aos estudos de Geografia Agrária.  Nos anos 1960, Oliveira esteve nas fileiras que debateram e defenderam uma alteração significativa na abordagem  geográfica. Em um momento em que a Geografia Agrária intensifica o seu afastamento do Historicismo, de perspectiva positivista (BOMBARDI, 2008), e sedimenta a sua filiação ao Materialismo Histórico, tornando-se uma Geografia Agrária de Vertente Marxista. 

Nesta perspectiva, conflitos por terra, violência e movimentos sociais no campo passaram a ser abordados por Ariovaldo Umbelino de Oliveira, de forma aberta e deliberada, marcando a geografia agrária que se consolidou a partir da Universidade de São Paulo. Conflitos, violência no campo e campesinato, passaram a ser conceituados desde a leitura materialista das relações históricas, econômicas e sociais no campo brasileiro. 

Assim, ainda hoje o Agrária segue em sua vertente marxista com estudos que consideram as relações de classe, campesinato e agronegócio, assim como pesquisas mais recentes sobre educação diferenciada no campo e financeirização da agricultura. 

Nesta perspectiva, conflitos por terra, violência e movimentos sociais no campo passaram a ser abordados por Ariovaldo Umbelino de Oliveira, de forma aberta e deliberada, marcando a geografia agrária que se consolidou a partir da Universidade de São Paulo. Conflitos, violência no campo e campesinato, passaram a ser conceituados desde a leitura materialista das relações históricas, econômicas e sociais no campo brasileiro. 

Assim, ainda hoje o Agrária segue em sua vertente marxista com estudos que consideram as relações de classe, campesinato e agronegócio, assim como pesquisas mais recentes sobre educação diferenciada no campo e financeirização da agricultura.